Introdução
Desde quando conhecimento e poder andam juntos, houve domínio do homem sobre o homem. Aquele que detém certo conhecimento opta por dominar o que não detém ao invés de compartilhar. Na relação de poder e domínio, uns subjulgam outros. Sob diferentes formas de exploração, começa a acontecer a exploração do homem pelo seu semelhante.
Sigmund Freud demonstrou claramente como os homens abdicaram de suas vontades mais instintivas para obter um benefício maior, que é a civilização. Nesse contexto é que desde os primórdios relações de domínio e poder se mostraram não somente necessárias, mas extremamente benéficas para a continuidade da Humanidade. Na sociedade moderna Capitalista, ou como configuraria István Mészáros, na organização do Capital sociometabólico, as relações de poder, domínio e exploração ganham novas configurações.
O Capital como sujeito
O Capital, por seus ditames, figura como único sujeito possível nessa realidade. Os homens, todos eles, perdem suas identidades de sujeitos, vivem simplesmente como indivíduos. É num isolamento quase monádico que reina a categoria indivíduo. Podendo dar-se ao luxo de não se envolver com o outro, de simplesmente não precisar se relacionar com o outro. Estamos tão distantes uns dos outros que muitas vezes preferimos a amizade daqueles a quem nunca veremos. Estamos tão independentes uns dos outros que é possível hoje você transitar pela cidade, entrar num shopping, efetuar diversas compras, sem trocar uma palavra com nenhuma pessoa.
A relação com o outro não perdeu sua característica de essencial, o outro deixa de ser semelhante, torna-se desconhecido. Essa ideologia traz a aparência de que o outro pode ser ignorado na sua condição de homem, logo, o que o outro vive não precisa me atingir. É possível andar pelas ruas, ver crianças pedindo dinheiro, velhos pedindo comida e simplesmente não ser afetado por isso. Tudo o que é preciso fazer é desviar o olhar, um suave movimento do pescoço na direção contrária resolve.
Caracterizando a pobreza
É assim que eu encaro a pobreza. Como conseqüência direta do processo sociometábolico do Capital, o qual implica perca da condição de sujeitos e resulta em uma individualização cada vez mais acentuada, tornando a individuação cada vez mais distante e utópica. Quase uma ilusão.
Das soluções para a pobreza, penso que toda e qualquer possibilidade de ação deve atingir a base sócio-econômica e modificar sua configuração. A meu ver, o início de passa pela destituição do poderio do sistema do Capital e da instauração de uma nova forma de organização, em que as relações não se pautassem no lucro, na mais-valia, na exploração, mas prezassem pelo mínimo de dignidade e humanização. É inconformável que hoje, diante do conhecimento que temos, diante do avanço dos transportes, da ciência e tecnologia, esse conhecimento não ser bem de todos, mas de pequenos grupos.
Questionamentos
Como podemos deixar que morram crianças por doenças para as quais já existe a cura? Como podemos deixar tantas pessoas morrerem de fome se o planeta consegue produzir (ainda que sinteticamente) mais que o necessário para saciar a fome mundial? Como conseguimos gerar tanta riqueza e concentrá-la na mão de minorias e deixar tantos semelhantes na linha da pobreza (ou abaixo dela)? Como isso nos comove, mas não nos move? Eu nunca vi um camelo passar no buraco de uma agulha.
Conclusão
Quanto mais o homem explora o homem, mais pobres ambos se tornam. Mais se coisificam, menos se humanizam. Mais distantes ficam de recuperar do Capital a condição de sujeito outrora constituinte de sua identidade.
Leituras Recomendadas
FREUD, Sigmund. O mal-estar da civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
MÉSZÁROS, Istvan. Para além do Capital. São Paulo: Boitempo, 2006.